A magnífica Serra do Gandarela, com sua beleza espetacular, que abriga, a poucos quilômetros de Belo Horizonte, milhares de nascentes, dezenas de belas cachoeiras, o maior aquífero profundo intacto da região, águas de qualidade, a segunda maior área contínua de Mata Atlântica em Minas Gerais, uma vegetação exuberante, riqueza de biodiversidade (fauna e flora endêmicas e em extinção), alta qualidade do ar, mais de uma centena de cavernas, incluindo pelo menos uma paleotoca (utilizada por animais da megafauna pré-histórica, extinta há mais de 10 mil anos) e um importante patrimônio cultural nas comunidades do entorno, continua seriamente ameaçada.
A ameaça é a mesma há 13 anos: a cobiça, em especial da empresa Vale, em minerar a única serra intacta no Quadrilátero Aquífero-Ferrífero, região onde moram quase 5 milhões de habitantes, incluindo a capital Belo Horizonte. Esta região vem sendo há décadas impactada por dezenas de minas de extração de ouro e ferro e centenas de barragens de rejeitos; são vários ali os complexos minerários da empresa, que se anuncia como de grande responsabilidade socioambiental, mas que já tem um enorme passivo e dívida com esse território e sua população, ainda mais depois do rompimento das barragens de rejeitos em Mariana (2015) e Brumadinho (2019).
Apesar da importância natural, hídrica, paisagística, espeleológica e cultural da Serra do Gandarela, a Vale permanece fazendo de tudo para licenciar seu projeto Apolo, pretendido na divisa do Parque Nacional criado em 2014, colocando em risco também essa Unidade de Conservação. O Parque Nacional da Serra do Gandarela é fundamental para a preservação de parte da região e para o lazer de milhares de moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte e dos municípios na bacia do Rio Doce. É de grande importância para fomentar uma economia baseada no turismo e atividades econômicas associadas, que fazem muito mais sentido que destruir a natureza, colocar em risco a segurança hídrica, a paz e saúde da população, como faz a mineração.
As comunidades do entorno do Parque em Raposos, Rio Acima, Caeté e Santa Bárbara também continuam ameaçadas, pois um grande projeto de mineração como o pretendido pela Vale ocasionaria impactos gigantescos. Por esta razão, desde 2007 existe uma ampla mobilização da sociedade civil, contrária ao empreendimento: essa resistência tem sido bem-sucedida até hoje em evitar as várias tentativas da empresa de iniciar a implantação da Mina Apolo.
Fatos recentes sinalizam que a Vale está preparando a nova investida contra a Serra do Gandarela, inclusive com a possibilidade de parceria com a mineradora Nossa Senhora do Sion Ltda., que no final do ano passado iniciou processo de licenciamento da Mina do Lopes; essa mina ficaria localizada entre o limite do Parque Nacional e a Área Diretamente Afetada (ADA) da Mina Apolo, a cerca de 500 metros do ponto central da cavidade de máxima relevância que abriga a paleotoca, colocando em risco um patrimônio cultural e natural de valor incalculável.
Assim, estamos novamente diante da necessidade urgente de arregaçar as mangas para defender a Serra do Gand: hoje, com a grave crise climática e a ameaça de escassez hídrica, a Gandarela é ainda mais essencial e estratégica para o rio das Velhas e o abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte como também para os rios São João e Conceição, afluentes dos rios Santa Bárbara e Piracicaba, sendo assim fundamental para a recuperação da bacia do Rio Doce.
Autores: Maria Teresa Corujo (Teca) e Profº Paulo Batista.